Paixão de uns, terror de outros
Hoje me dei conta de que do momento em que eu comecei a falar até o momento que eu aprendi a escrever as coisas não haviam mudado muito, claro que eu não pronunciava mais “mama, papa, aga”, mas não tinha noção nenhuma de como juntar as letrinhas para fazer as palavras.
Para completar a novidade que é aprender, ainda me aparece um tal de dicionário, algo tão grande e com letras tão pequenas que dá medo só de olhar. E com o passar dos anos as coisas só vão se complicando, com surgimento de tantas regras, é semântica, sintaxe, fonética..., como em um filme de suspense, quando você pensa que as coisas vão se resolver, elas se enrolam ainda mais.
E como se já não bastasse a palavra, o pobre do aluno tem que saber o tempo verbal da frase, a conjugação correta, a procedência do termo. Quem inventou tantas regras para a escrita não devia ter muito o que fazer, porque só um desocupado para inventar tantos “por quês”, não era suficiente somente um? Fico imaginando o prazer que essas pessoas sentiam ao criarem tantos códigos e tantas dificuldades para nós meros e pobres mortais. Pouco a pouco, aquela inocente criança vai sendo invadida por mil e uma dúvidas, por diversos receios, vai adquirindo uma tremenda aversão pela língua.
Após anos e anos amedrontado com a vastidão do Português, aquela pequena criança, que hoje já é quase um adulto, conhece a morfossintaxe, a lingüística e outras tantas, acaba descobrindo que a maneira que escreve-se uma palavra não mudara seu sentido , e que mesmo estando errada as pessoas compreenderam o que se quer dizer, mas o corretor da redação vai ter o prazer de descontar seus pontinhos, então preste muita atenção ao escrever cada palavrinha, virgula ou acento.
Mas quando o cidadão acha que já aprendeu tudo que está quase pronto para escrever seu livro ou o próprio dicionário, acontece o novo acordo ortográfico e muda tudo de lugar. E, então, começa tudo de novo, é um ciclo de constantes mudanças. Ah, o Português, paixão de alguns, terror de outros.
